quinta-feira

LIFE IS NOT "BIUTIFUL"

O que há de bonito em Biutiful? Minha esposa, minhas amigas (e mesmo alguns amigos) não hesitariam em responder à pergunta dizendo: Javier Barden.

Não é inveja do Barden (talvez seja, mas não é o tema aqui), mas a beleza do filme de Alejandro González Iñárrit é esquiva. Esconde-se em uma Barcelona quase inédita nas telas. Feia. Suja. Povoada por imigrantes ilegais, pobreza, drogas, abuso, corrupção e desespero. Há umidade na imagem. E odor de aquecedor barato. A Sagrada Família, as lojas de grife e o mar são apenas paisagens distantes, inacessíveis.

Histórias tristes de finais infelizes. Em Biutiful a morte é a protagonista. Espreita. Sobreviver é em vão. Não há saída. A justiça é uma impossibilidade. Ninguém é inocente. Ninguém é jovem demais para morrer.

Biutiful é um filme quase religioso. A única realidade bela é porvir. A única libertação é a morte. Seja nas plácidas cenas de neve, onde pai desconhecido e filho se encontram. No belo alvorecer dos corpos tranqüilos, descansados na praia.

O bonito em Biutiful é a rebeldia do amor, quando só há morte. O policial corrupto diz a Uxbal (personagem de Barden): “Não se pode confiar em quem tem fome”. Mas, quem tem fome, pode amar. O sujo ama. Os cadáveres adiados amam. Amar nas nossas misérias. Amar além da fome, além da morte, além do esquecimento.

Só há luz no fim do túnel. No meio dele, só a escuridão e o amor por lanterna.

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