quarta-feira

CONTO DE FADAS ELEITORAL

A propaganda eleitoral (seja a partidária, seja a do TSE) tem em comum com as histórias infantis a crença de que tudo se resume a uma luta entre bons e maus. Se você votar na pessoa certa. Se escolher o ser humano bom, tudo está resolvido. Segundo esta visão, sua tarefa como eleitor é descobrir quem é o vilão e votar no mocinho.
Aos que estão no poder (seja em que grupo for) compensa que você compre este conto de fadas. A realidade dos fatos políticos é, porém muito distinta. Mesmo que haja o componente do individuo (sempre há), a ação política acontece no contexto, funda-se na estrutura, concretiza-se nas instituições e é transformada na ação coletiva.
No contexto, há um Estado que lida com demandas infinitas e contraditórias (uns querem avenidas, outros melhores ônibus) e tem recursos (capacidade de arrecadar) finitos. Todos querem receber mais e pagar menos.
Na estrutura, há o financiamento privado de campanhas (praga que está na origem de TODOS os escândalos de corrupção), a inexigibilidade dos legisladores seguirem um programa partidário (maioria das vezes, um conjunto de generalidades, feita justamente par serem lidas ao bel prazer pelos donos do partido), etc.
No âmbito institucional, há as sobreposições de atribuições entre os entes federativos e suas esferas, os mecanismos deficitários de controle social, a desobrigação de o Executivo seguir políticas de estado que se sobreponham às de governo, etc. Há um cipoal entrelaçado que dificulta (às vezes até por motivos “republicanos”, aonde o poder de um precisa ser controlado pelo de outro) a mudança.
Mas, transformações ocorrem constantemente, ainda bem.  Cristãos, mais do que outros, deveriam saber que não há um justo, um sequer. Logo, as mudanças efetivas acontecem (e tem acontecido) quando maduramente nos articulamos em grupo (assim, reduzimos nossas propensões à ação egoísta) e trocamos a visão maniqueísta de perseguir vilões e buscar heróis por mudar contextos, estruturas e instituições que permitem e replicam vícios. O “Superpolítico” não virá nos salvar dos vilões, até porque nós também somos os vilões.