quarta-feira

DEUS E O GATO


 

Aos 14 anos estudei Física, ao menos com esse nome, pela primeira vez. Estava no ensino médio e tinha um professor extraordinário. Para a maioria, era bom porque dava pontos extras por trabalho. Para mim, que na época esnobava os pontos extras, desafiava-me com citações de cientistas, histórias e dilemas morais. Queria que fôssemos além da decoreba de fórmulas, dos exercícios tolos de laboratórios. Fui.


Apaixonei-me de cara pela Mecânica Newtoniana, tudo explicado, cada elemento em seu lugar, todos seguindo leis imutáveis, harmônicas, em uma marcha elegante. Lembro-me da empolgação de quem descobre um segredo, da primeira epifania, da segurança adulta advinda das certezas. Como nas paixões adolescentes, o prazer das descobertas foi logo seguido de um desânimo, do desprezo de quem já não tem o que achar. Meu Universo foi se desencantando, a cada aula, a cada leitura na Biblioteca Central. E eu com ele, desencantado. E assim, a explicação de tudo, minha paixão, logo se transmutou em broxantes equações prontas, finalizadas.  o descoberto, inicialmente oceânico, tornou-se uma poça diante do não explicado.


Nesse estado de desânimo, no final daquele ano, fui pego pela irresistível atração  gravitacional de um gato. O bichano morto e vivo de Schrödinger me levou à Física do Século 20, ao midiático Einstein da língua para fora e, principalmente ao jovem Heisenberg, em seus tormentos aos ventos ateus da Ilha de Helgoland. Re encantado ou talvez apenas incomodado, parti para aquelas férias com um presente de meu professor, um livro que tentava explicar, ou melhor, “desexplicar” o que eu pensava ser óbvio. Dois meses e paginas gastas de areia, mar e desespero depois, voltava eu, em estado de pura dúvida.


O que um adolescente, sem formação nem ferramentas, conseguira entender,  era a profunda crise vinda da convicção de que a realidade ao meu redor era uma invenção, no máximo, uma versão. No centro da minha crise, a questão do TEMPO. A ideia do TEMPO como conceito gramatical, um truque conceitual. Não mais o tempo fato, verdade. Só o parâmetro de uma realidade, só existente na medida em que se relaciona. Isto me fustigava, tecia nós górdios em meus neurônios imaturos. Leituras e as inúmeras evidências que lia não me deixaram descartar aquilo, como quem joga fora uma religião. Isso me atormentou a ponto de procurar um amigo mais velho, estudante de Teologia, meu “coaching” espiritual, se esta palavra fosse usada na época.  Entre um  beirute do Wells e um tanjal , ele ouvia minhas questões. Anos depois, confessaria não ter entendido nada do que eu dizia, ter cogitado que meu estado pudesse estar ligado a alguma narcose ou, pior, a algum tormento de origem diabólica. Mas, na hora, apenas engatou um discurso de preocupação de que a “ciência” estaria me levando para longe de Deus. Foi minha vez de não entender nada. O que eu trazia era, para mim, uma experiência de fé, não um afastamento. Na falta de uma ideia melhor, meu amigo citou  Deuteronômio (os conhecimentos ocultos pertencem a Deus…) e fez uma oração por mim.  Quem sabe ele foi respondido, mas de outra maneira.


Mais tarde, quando fui retribuir o presente ao meu professor, com outro livro, compartilhei minhas inquietudes. Ele riu e me disse que tudo o que conhecemos só o alcançamos por meio do tempo e do corpo (massa). Na relação que estabelecemos. Não há conhecimento humano que possa vivenciar o que não está contido no tempo, nem o que não tem estado corpóreo (mesmo que seja traduzido em uma reação sináptica).  Mesmo que nossa Ciência possa descrever, prever e comprovar coisas como sincronicidade e sobreposição, estas não seriam experiências ao nosso alcance. Mais ainda, que o tempo, percebido pelo corpo (que encapsula todos os sentidos), é nossa prisão ajardinada. Se no Universo das pequenas e das grandes coisas o tempo é irrelevante e a massa é até negativa,  para nós, os habitantes do mundo do meio, eles são nossos potenciais e limites, nossa humanidade. Deus, por definição, seria um ser meta corpóreo e atemporal (ou supra temporal?), logo , é impossível entender o mundo como Ele entende.


Sem nenhum versículo nem reza (até hoje não sei a religião desse professor, se é que  ele tinha uma), recebi ali uma bênção: uma contra ideia que reorientou minha percepção de Deus, pecado original e redenção. A Árvore do Conhecimento, tornou-se o conhecimento/consciência do tempo. Tempo é um parâmetro decorativo para Deus, porque Ele tem software (ou será hardware?) para rodar isso como metáfora, não como realidade. Mas para nós, o mundo do meio, é a infraestrutura determinante. O tempo e sua linearidade eram nosso fardo, por querermos ser iguais a Deus, sem termos como. A redenção, feita por um ser corpóreo histórico (que estava e não estava no tempo, depende de quem olhasse), que promove a superação de causas-efeitos, antes-depois, vida-morte. Nossa vida, uma sequência de superposições em múltiplos quase existentes. Deus, o cara que, não é atemporal, mas está fora e dentro do tempo, fez possível o que não existia, tornara uma não realidade o que me pareceria inexorável em sobreposição o que não era  possível”. 


Eu e a Física seguimos nossas conversas, sempre limitadas pelo fato de que, a Física não aprende minha língua, e eu sigo com precário conhecimento do seu idioma. Mas, nunca mais deixei de desconfiar de que qualquer gramática (ciência, discurso, teologia ou experiência) seria apenas capaz de descrever sombras, intervalos. Na época a grande inexorabilidade do tempo, a morte, ainda me era um conceito quase teórico, no máximo, distante.


Hoje, o tempo bate distinto. Ele me referencia ausências e anuncia iminentes ocasos. Parece imóvel, quando não vejo avanços. Soa retroceder, ao presenciar a marcha anti cvlizatória. Ajuda-me, hoje mais do que em 1982, ouvir os ventos de Hargoland, pensar na realidade como relação, não com estado; uma entropia mais do que no apagamento. Essas coisas que não entendo, mas que se provam verdade no dia a dia, ajudam- me a despedir-me do tempo, ainda fascinado pelas possibilidades anti factual de que a morte nem existe.


Assim, Heisenberg (e não Newton) com sua Física de intervalos , incertezas e saltos tem me ajudado a não querer explicar tudo, a não ver o visível como a única possibilidade.  Pelo ponto de vista de nós, os corpos prisioneiros do tempo, sigo com a impressão de que Deus, como o gato de Schrödinger, nunca esteve na caixa.

FAZ DE CONTA QUE FOI NATAL


January 4, 2022


O carro passa rente a um desfiladeiro, atingido por lava e pedras fumegantes, de um vulcão. Escorrega e caminha para o fundo. “Fiquem tranquilos”, diz o motorista, ao seus passageiros, seu avô, seus primos e seu vizinho. Aciona seu escudo anti-meteoros. Acelera, usando a potência de um ruidoso foguete, e segue pelo abismo, na vertical, até o trunfo final. Todos ficam impressionados e ele sabe que é o melhor piloto do mundo. Do universo, já que, na sequência, pega um telefone e combina algo. Diz para o avô ficar no carro porque combinou de reencontrar a “bisa”, que está no céu, algo parecido com uma fazenda no espaço. Pensa que será bom, quer mostrar uns truques novos de dominó e atualizar sobre as notícias. Com um botão, seu bólido vira nave e começa sua jornada de reencontro.

Até que seu voo é interrompido por uma voz potente: “devolve aqui esta lata!”. Nesse momento, o carro-nave volta a ser uma lata de sardinhas, surrupiada da pia. O piloto herói, em seus cinco anos, sai contrariado. Esperto, não tem escudo anti-bronca. O mundo, do piloto imune à dor e ao fracasso, do telefone para o céu, desaparece. Ficará escondido, até a próxima aventura, até o dia em que, crescido, o menino não se lembrará mais como transformar uma lata em uma nave.

Crianças têm o poder de criar mundos. Forjam universos onde morte, fraqueza, conflitos e escassez não existem. Onde as Leis da Física e dos humanos são determinadas pelo coração. Mundos que deveriam ser, mas que foram abortados pelo mundo que é. Mundos que “esqueceram de acontecer” e se rebelam em lapsos infantis.

Lembro de uma criança, que irrompeu, que interrompeu uma História que foi, que é, a história da opressão, da condenação, da separação, do ódio e de seu irmão discreto e cruel, a indiferença.

A Criança que reimaginou a história da morte, que a reescreveu na “versão do diretor”. Nela, o amor, superpoder, dá o pão de cada dia, o vinho da festa, a cura da doença, o perdão do erro; dá a própria vida pelo outro, sempre próximo. Um mundo, onde quem dá recebe; quem perde acha; quem é o último chega primeiro; onde o menor é um gigante; onde o doido é o sabido; e quem não tem nada é o mais rico.

O mundo que deveria existir, que virá a existir, imortal, reconciliado, amado. O mundo reimaginado, agora possível porque uma Criança nasceu.


(texto inspirado na história de Matheus, neto do Carlinhos que fala com a bisavó, através de um telefone desligado, desligado da terra, mas ligado no coração.)


sexta-feira

Tribunal do Espelho

 

Nessa manhã, os Jornais dizem que o Covid19 matou 100.000.

No espelho, um acusador discorda. Ele diz que eu matei, sou assassinato em massa.

Tentei argumentar com meu acusador. Eu cumpro minha parte no isolamento social. Eu não votei nesse governo, não tenho poder, nem influência para mudar comportamentos. Não fiquei omisso e até expus, em redes sociais, minha indignação, usei hashtags engajadas, publiquei logo antifascista, marchei virtualmente por George Floyd, e tudo mais. Então, eu não poderia ser acusado.

Meu acusador disse que tudo o que eu afirmei é verdade.  Mas, mesmo assim, sou culpado. Ele me lembrou que, como sociedade, partilhamos sucessos. Não projetei foguetes, mas fui as Lua. Sou muito ruim de bola, mas sou pentacampeão mundial de futebol. Nunca articulei um acordo de paz, mas acabei com conflitos.

E, assim como os sucessos, partilhamos responsabilidades.

Alemães, nascidas décadas depois do Holocausto, assumem até hoje as responsabilidades pelas atrocidades. Japoneses do século 21 pagam reparações por erros de 50 anos atrás. Canadense e australianos, que nunca foram colonos, e talvez nem tenham visto um Inuit ou um Torreano, adotam reparações a descentes dos que foram escravizados e expropriados, com aval do Estado, há 200 anos. Noruegueses de hoje compensam a devastação florestal de seus bisavôs. Brasileiros, que nasceram já sob a redemocratização, pagam indenizações a presos políticos da Ditadura.

Meu acusador me lembra que, com a subnotificação percebida no aumento de morte por SRAS e afins, cerca de 120.000 brasileiros morreram por Covid, até hoje.  Replico: as mortes são por conta da letalidade do vírus, das ineficiências do SUS e da desigualdade.

Mas, meu acusador traz os números: 80.000 pessoas teriam morrido a menos, se tivéssemos usado a mesma políticas e comportamento da Argentina ou Uruguai, ambos com infraestrutura em saúde equivalente à nossa. Ou ainda, que 52.000 estariam vivos, se tivéssemos feito o mesmo que a, tão desigual quanto nós, Colômbia fez. Ele nem mencionou os 108.000, que teriam sido salvos das covas, se tivéssemos a coragem dos neozelandeses. Todas, estimativas já levando em conta o tamanho da população de cada país.

Meu acusador concluiu, ao comparar com países de níveis de infecção, socioeconômicos e desigualdades próximos ao nosso, que pelo menos 60.000 mortes não podem ser atribuídas à inevitabilidade da doença, nem falta de recursos do Estado, nem ainda a desigualdade vergonhosa. São 60.000 assassinatos inequívocos.

Alguns atores têm papel ativo, são protagonistas na matança. Mas, outros como eu, mesmo sem participar, são partícipes a contragosto. Mesmo que não deliquamos juntos, faço parte do bando, liderado por um governante com vocação de carrasco, cercado por seu séquito de “queixos-mascarados”, em seus churrascos de gado criado na dilapidação da floresta, de uma sociedade que não se responsabiliza nem por si, nem pelos outros.  Mesmo que busque os dados, a Ciência e a moralidade coletiva, sou parte de um bando, que inventa suas notícias, deturpa a religião para justificar a sobrevivência às custas da carne do outro.

Apenas confissão de culpa, esse veredicto seria tão irrelevante quanto meu papel. Geraria uma culpa hipócrita, mais um desprezo às vítimas. A dura constatação de que divido a culpa pelos atos de minha sociedade e, mais importante, que tenho que assumir as consequências, precisa ser pedagógica. A ideia de responsabilidade coletiva contribui para uma intolerância à barbárie e àqueles que a defendem. É a consciência da corresponsabilidade que leva um país a estruturar instituições, promulgar leis, criar hábitos de respeito à vida. A consciência da responsabilidade coletiva é uma ação para uma sociedade não repetir erros, a melhor prevenção para novos crimes coletivos.

Nesta manhã, um assassino me olhou no espelho.


Eduardo Albuquerque, IEA-FEA. 

texto publicado no Boletim FEA USP, 7-8-2020

segunda-feira

CARO COLEGA ASSASSINO

No dia 25 de Janeiro, Rômulo Oliveira da Silva, de 37 anos, foi levado para a UPA de Manguinhos (Zona Norte do Rio de Janeiro), logo após ter sido baleado, por volta de 18 horas, na localidade conhecida como Coreia, mas não resistiu ao ferimento. O tiro atingiu o peito de Rômulo. Ele trabalhava como porteiro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Não havia troca de tiros na hora. Todas as pessoas que viram disseram que o tiro veio da Cidade da Polícia (Centro Administrativo-Operacional da Polícia Civil)  

(Fontes: Extra, O Dia, G1)


From Brasil to Brazill, Baby! Experimento Social polêmico faz 10 anos.

SPOILER: O QUE SERIA O BRASIL DO "MERCADO"
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Revista Portocalis
Edição CLVI.  Junho, 2029.

From Brasil to Brazill, Baby!
Experimento Social polêmico faz 10 anos.

Rosa Cansado



Netinho, presidente da Brailll Inc, durante entrevista

Às vésperas da comemoração de 10 anos do mais novo país do mundo, Brazill. O primeiro a ser 100% "Market-Friendly", administrado por uma empresa, Brazill Inc, entrevistamos Antônio Guedes de Carvalho D’Or Neto.
Doutor Netinho, como gosta de ser chamado, é presidente do Conselho da Empresa-País e reconhecido como guru da reinvenção do país.
Em uma conversa franca, entre a sede da empresa, na nova capital do país (ou headquarters, na linguagem de Brazill, no Condomínio onde era a cidade Vinhedo), Netinho, acompanhado de assessoras, falou a Portocalis, sobre o sistema 100% privado, as polêmicas do experimento: ecologia, racismo, encarceramento de milhões.
Os leitores perceberão que o idioma em Brazill já se distancia do que chamamos Português. Mas, para preservar a originalidade, não traduzimos nosso entrevistado.




Portocalis: - Tudo começou em 2019....

Começou em 1500. Vamos falar a verdade. Até tentamos, com vários caras, mas era tudo muito counter-productive.
Um rombo impagável. Previdência, demandas por saúde, educação, segurança, mobilidade. Etc.
Pleitos desmedidos, todo mundo, mesmo pobre e imprestável tinha direito. Um Dívida Impagável, um passivo incalculável.
Não havia saída. Ou só havia saídas para Miami, Lisboa, Londres,...
Não havia solução dentro da caixa.
Estávamos no Fasano e já na 3ª ou 4ª garrafa de Petrus. Eu, Joãozinho, já com guardanapo na cabeça, Abílio, Pedro Paulo escutávamos meu primo, Paulinho, explicar sua proposta de reforma da previdência.
Pedro Paulo, bom de Matemática, pressionou e Paulinho admitiu: a conta só fecharia sem os pobres.  Muita mistura. Excesso de gente diferenciada querendo coisa demais.
Então eu tive um insight. I figure out: O problema eram os assumptions: Cidadania, Direitos, Igualdade, Sistema público, Estado, etc. Todos conceitos de séculos! E coisa de grego! A Grécia é a zona que sabemos.
Esses conceitos foram bons para algumas coisas? OK. Possibilitaram o Livre Comércio, o Iphone e o Nespresso. Mas, já não performavam mais. Precisávamos de novos assumptions para Brasil.
Pensei: O que funciona neste mundo? Empresa! Tudo que funciona bem é empresa. Certo? Famílias bem-sucedidas são empresas. As igrejas que dão certo? Empresas. O crime organizado? Empresa. Partidos bem-sucedidos? Empresas.
Por que não entender que o país como uma empresa? E breaktrough!
Ali mesmo eu redigi a nossa nova Constituição, toda inovadora. A primeira feita na tela de um Iphone, a menor do mundo, a única realista.






 CONSTIITUIÇÃO BRAZILL, ORIGINAL 1




Portocalis: - Brazzill?
Precisava atualizar, internacionalizar a marca. O mundo que importa já dizia Brazil. Mas, meu número de sorte é 7, então Brazill. So excited!
No paradigma empresa as perguntas mudaram. E ali na mesa estavam os brains da elite. Foi só fazer uma lista: O que produzimos? Para quem vendemos? Qual o lucro? Qual é o passivo? Qual a governança? The basic stuff, baby. O 101 de um Business.
Embalados a Tokaji Aszú e panacotta, fizemos um rápido value assessment.  O que tínhamos para vender? Duplas sertanejas, youtubers e grupos de WhatsApp não rodavam. Pobres? Todos países já têm, e sobrando. Bem, talvez Luxemburgo comprasse meia-dúzia. Mas, não rodaria.
A riqueza, o produto do Brazill era Real State. Terra.  Mas, mal-usados. Quase 5 mil KM de área com vista para o amr. Os morros do Rio? Lindos! Mas, cheios de pobres. Aquilo era lugar pra um resort, não para favelas. Fazer um empreendimento tipo Neo-Positano ali? Lucro certo.
6 milhões de KM2 de área fértil. Mas, tudo mal organizado. Muita área verde decorativa, cheia de uns tipos que vivam no paleolítico. Outras, que dariam para eucalipto, mesmo secas, tinha gente que comia cactos, etc. Um horror.
Com uma reorganização, rodava.
Real State era a resposta.Mas, é uma área que drena muito. E, todo mundo precisa de tempo para as coisas simples, que são as que valem a pena na vida. Não? Jantarzinho com seu crush, no Eleven, com os carrinhos amarelos de New York ao fundo: organizar um petit comité de best friends, em Como; ou ficar contemplando as estrelas, em uma tenda no deserto de Dubai; ou ainda, somente sentar na varanda vendo o sol se pôr, de uma suíte do Gritti, acompanhado de um Apperol, emoldurado pelo Grande Canal de Veneza.  
Naquela altura da vida, precisávamos de um business equilibrado. Tínhamos terras, mas não queríamos perder a essência da vida. Realizei, nossa vocação era para Asset Manager!
Tinham uns entraves de curto-prazo: Congresso, STF, Sindicatos, etc. Precisaríamos de um impeachment duplo, de 5 ministros do STF, de uns disparadores de fakenews, de uma emissora, mais uma provisão para contenção de adversários, etc. Na mesa mesmo, Pedro Paulo, genius em matemática, fez as contas. Com 150 Milhões a gente comprava todo mundo que valia. E os que não valiam? Sumiriam por muito menos, não faltava PM para freela de matador. Ficamos surpresos, o pacote de takeover era bem em conta. Ligamos para uns poucos amigos de visão e confiança, dividimos a conta em, antes das 2 da manhã, o negócio estava selado e o funding de start-up fechado.
Nem 3 meses depois, já passamos para a fase da reestruturação.





Portocalis: - Então veio o Dia da Cobrança?
Basic, baby. Toda reestruturação começa pelo passivo. Primero: a dívida.
Fizemos uma auditoria ilibada, por uma das empresas do Paulinho. O resultado:  600 Bilhões debt e uns 400 Bi de liabity a 25 anos! Os fracos teriam fugido para Turks. Nós não.
E muito da dívida era com pessoas de bem, fundos de investimento. Fizemos a única coisa possível. Chamamos os sócios e dividimos a dívida.

Portocalis: - E cobraram dos cidadãos?
O tal conceito de cidadania dizia que éramos todos iguais. Certo? 101 novamente. 1 trilhão por 210 milhões de pessoas, que eram na época os cidadões....

Portocalis: - Cidadãos..
Pouco importa, conceito antigo. Agora, temos sócios ou usuários, somente.
O fato é que cada um deveria entrar com uns USD 5,000 de funding para equilibrar as contas.
Lógico. Poderia abater do crédito. Quem tinha bonds e recebíveis pode debitar
Fizemos um valueing amplo: Capacidade futura de trabalho, propriedades, direito a aposentadoria, etc. Executamos bens, direitos e capital futuro, aportado como bens da empresa.

Portocalis: - Milhões ficaram sem nada?
Não, já não tinham quase nada, antes. E quando colocaram o que tinham, não dava nem para a dívida. Sabe, gente que não produzia nem para manter a si mesmo? Gente pobre, doente, com defeito na cabeça, na perna, que nem o corpo servia para ser vendido.

Portocalis: - Na prática, foram excluídas quase 50 milhões de pessoas? Agora sem Cidadania?
Excluiu de uma execução judicial. Salvamos milhões do SPC. Castigamos esta carteira podre. Mas, todos mantiveram a cidadania que tinham. Não era minha culpa se ela não valia nada mesmo.
Bem, o espírito bom do brasileiro falou mais alto e oferecemos uma saída: um write off, um perdão de dívida, em troca da saída voluntária do negócio.

Portocalis: - Então houve o Dia da Expropriação?
Este nome foi dado pelos terroristas do PSOL! Não, o segundo passo for reestruturar o business.
O que o Brasil tinha de valor era espaço, terrenos com frente para o mar, terrenos de florestas, reservas de recursos naturais, minérios, solo, gente, etc. Aportamos tudo o que foi recebido como pagamento da dívida e o que era antes chamado de Público.
Oferecemos uma troca de ações. Entre os que conseguiram pagar a dívida, ou a trocaram por dívidas privadas com outros, dividimos as ações equanimemente entre os que ainda estavam no negócio.  Os que não, puderam trocar a cidadania do Brasil antigo por um salvo conduto.

Portocalis: - E, então houve o Dia do Aporte?
Management, baby. Terceiro passo.
A empresa nova precisava crescer. Lançamos um aumento de capital, algo básico demandando menos de 5oK, por acionista, tudo debitável dos bonds e obrigações que ainda estavam na praça. Veja, por exemplo: Algumas obrigações como as aposentadorias de altos funcionários públicos, juízes, promotores, oficiais graduados, etc. foram quitadas com lotes de ações. No final, todos felizes.
Todos os que passaram pela quitação da dívida nacional, puderam participaram. Alguns preferiram vender suas ações.



Portocalis: - Preferiram? Tinham opção?
Todo mundo é livre para vender e comprar. Alguns preferiram só vender.
Ainda somos uma S.A. Não queríamos um mercado fracionário que desvalorizaria as ações. Exercemos o gold purchase right. Governança 101.
Portocalis: - 70 milhões terminaram excluídos nesta etapa?
O número exato não me lembro, só ver no year report.
O mercado é implacável com quem está a descoberto. Os que estavam capitalizados reforçaram suas posições. Mas, ninguém saiu sem nada.
Portocalis: - No final, 76% do território está sob controle da Brazill Inc.
Foi a parte que correspondeu ao funding.
Brazill Inc é a maior empresa focada em Asset Manager do mundo. Temos fundos de investimento e gestão que cobrem mais de 7.000.00 Km2.
A massa falida foi convertida em enclaves. Tudo Transparente e auditado.
Os shareholders com lote padrão mínimo de PNs ganharam um living-partner. Cada determinado lote de ON’s, dá direito a um living permit. Todos tiveram opção de manter suas propriedades anteriores ou transferi-las para Fundos Imobiliários na Brazill Inc.
Todo o território foi organizado em Condomínios, que substituíram os municípios, cidades, estados.
Menos de 100 condomínios urbanos no lugar dos 6000 municípios de antes. Muito mais racional. Tem condomínio ao Sul, ao Norte, na costa, no interior. Para todos os gostos. Condomínio free-smoking, free-gun, free-Children. Para quem gosta de tédio, tem até um Condomínio Free-Fun, onde funcionava Curitiba.
Veja o exemplo do maior deles, SP Ville, tem algo como 3 milhões de pessoas, divididos em subcondomínios, do Ville 0 a Ville 200.  Ainda é um desafio logístico. Às vezes acontece um congestionamento? Mas, é de SUVs lindas e brancas.
A administração da vida é toda privada e descentralizada nos sub condomínios, por faixa de metragem das moradias, e áreas comuns.
Todas as vias de acesso concedidas são VIP lanes e não têm a mistura que você encontra na sua Europa, por exemplo.
Áreas antes improdutivas, hoje são espaços de lazer. O campus da antiga USP é um lindo parque e por um fee módico, os condomínios usam para correr, nadar, brincar de esconde-esconde entre montes de livros inúteis de humanas.
Assim, Brazill é descentralizado e privatizado 100%.
Não somos o primeiro mundo, somos outro mundo. Outro mundo é possível, indeed.


Portocalis: - O Sistema político?
Não existe. As cidades ou as demais áreas, divididas em condomínios rurais, turísticos ou industriais, são administrados por síndicos e empresas concessionárias. O síndico é eleito na assembleia, onde cada proprietário vota proporcionalmente a metragem que tem. Cada condomínio trata da segurança, portaria e infraestrutura comum. Há taxa de condomínio. Abolimos impostos para shareholders. Cobramos fees pelos permits só de estrangeiros.
Os espaços entre os condôminos são concedidos pela Holding, Brazill Inc., e administrados através de concessões privadas. E os condomínios e demais concessionários pagam uma taxa pelo uso da terra para a Brazill Inc. Já quem vive de fee, paga royalties. Tudo transparente. Um win-win.

Portocalis: - E os serviços públicos?
Vocês que são de países europeus talvez tenham alguma boa experiência com isto. Este conceito nunca funcionou aqui. Abandonamos esta ideia importada. Tudo é privado. Nada é público. Nada é coletivo, exceto jardinagem, segurança e portaria.
Estradas, ruas, áreas de lazer, etc. Zonas rurais ociosas ou que haviam sido devolvidas pelos antigos donos para pagarem suas dívidas foram reincorporadas ao patrimônio e vendas ou concedidas a empresas agro ou a outras que sublocam. Criaram o primeiro uber land. A pessoa aluga um terreno e produz.

Portocalis: - Mas, isto era usado na idade média.
Fizemos uma inovação. Hoje é controlado por app georreferenciados. 
As concessões de áreas inter urbanas respondem pela infraestrutura de transporte e sua segurança e subconcedem zonas para malls, fazendas e outros.
Princípios efetivos e simples, não existe nada público. Não há nada gratuito.

Portocalis: - Até na bandeira...
There is no free lunch!  Genius, não? Demos a primeira bandeira-Logotipo do mundo. Romerinho quem fez. Um luxo!  E está na nossa Constituição também.

Bandeira de Brazill Inc.


Portocalis: - Os Partidos políticos foram banidos?
Como não há mais espaços públicos e políticas públicas para discutir, não precisamos de partidos. O povo ficou feliz, ninguém gostava dos políticos, mesmo.
Agora, há consórcios de Shareholders, algo muito mais business.
Alguns antigos partidos religiosos viraram franquias e competem entre si por modelos e condomínios, como o Pink & Blue.

Portocalis: - Escola de Idiomas?
Não. Condomínio Gospel, onde meninos usam azul e meninas, rosa. Todo rodeado de goiabeiras e antas, muito interessante. É um mercado dinâmico.

Democracia? Parlamento?
Temos uma Bolsa de Valores, onde os grupos que gerenciam condomínios, formam consórcios e disputam.
E há a Assembleia da Brazill Inc. Todo ON vota, segundo seu patrimônio. E elege o Conselho, que nomeia um CEO e os demais executivos. Nada de presidente, ministro, cargo de confiança. Simples e empresarial. Não performou, demitimos e substituímos. No nosso time, só player de primeira.
Brasília ganhou uma utilidade, é um Condomínio Hípico, Haras, Campos de Pólo, Jóquei e soja no entorno.

Portocalis: - Falaste dos condomínios. Mas, os que ficaram para trás? Tanto depois do acerto da dívida, quanto do aumento de capital?
Fizemos nosso benchmarking. Israel 2010, Alemanha 38, Luxemburgo 80, Dubai 2015. Sabe? Pegando as ideias e corrigindo pequenos desvios aqui ou ali.

Portocalis: - Os enclaves dos que foram expulsos por não conseguirem quitar sua parcela na dívida pública?
Os que receberam o write-off, que não haviam conseguido participar da reorganização da dívida e não tinham como arcar com nada, sabe, este pessoal que não servia mesmo para coisa alguma, não foram totalmente esquecidos. Para não gerar um problema de PR, criamos uns 20 enclaves para eles.

Portocalis: - Braza.
Esse foi o nome que eles se deram. Infelizmente são espaços de rancor, terroristas, gaysistas, machonheiros, quilombolas, povo de centro acadêmico, gente que usa calça de cintura baixa com barriga e toda esta gente pobre de esquerda. Coisa de ONG. Não mantemos nenhum tipo de relação diplomática-comercial com eles.
Mas, pessoas caridosas mantém alguma troca humanitária com eles, através de alguns autorizados.

Portocalis: - Humanitária?
Sim., doações de alimentos e outras coisas, em troca de humanos. Há um bom mercado para sangue, órgãos e humanos para diversão ou comida exótica. Mas, o livre comércio é assim, decide o quem compra, o que vende e nos termos de troca. Não endossamos, mas respeitamos.

Portocalis: - Canibalismo?
Canibalismo, pelo nosso dicionário, é roubar cinzeiro de hotel. Há novas gastronomias, que buscam sabores inusitados. E buscam isto em Braza, que tem fama de carne com pouca gordura, terneiros e baby beef.

Portocalis: - E isto é ético?
Não interferimos em assuntos de foro íntimo. Você acha que somos como estes comunistas, que ficam ditando regras para as pessoas? Give me a break.

Portocalis: - Brazill isola os moradores de Braza? Há relatos de que as condições de vida lá são terríveis, fome, epidemias, caos.
Apenas cuidamos para que não invadam a propriedade privada da Brazill Inc. Se querem ir para para Bolívia ou outro lugar, podem pedir um salvo-conduto, a um preço módico. Mas, não vamos dar passagem de graça.
Se eles têm caos? O que você esperaria? Pobres, ongueiros? Tem até petista lá? Você achava que iriam se comportar como gente? Esta ingenuidade politicamente correta é que vai afundar a sua Europa. Eu vejo aquelas pessoas e penso: Um preservativo teria evitado tanta merda Mas, Braza para nós é outro planeta. We don’t care, como diz nossa bandeira.
Portocalis: - Mas, tem enclaves de Braza a meia hora de Saint Paul Ville. No nosso planejamento estratégico já fizemos uma provisão para resolver isto. Os termos do contrato permitem a Brazill Inc troque as áreas e transfira estes enclaves. Há estudos racionalizar estes enclaves em áreas mais distantes. Estamos comprometidos em abrir novos empreendimentos e dar mais espaço vital para nossos shareholders. Vamos esperar que a população caia naturalmente, para diminuir o custo de realocação.



Portocalis: - Naturalmente? Há relatos de que são feitas sessões de tiros para matar pessoas que vivem em Braza.
O pessoal do nosso security, todos de Brazânia, só faz contenção.
Mas, há uma concessionária de entretenimento, Witzel Faixas e Fuzis, que têm torres de snipers, de onde se pode atirar.

Portocalis: - Mas, se a pessoa acerta crianças ou idosos?
É punida. Perde o jogo e tem que pagar a cerveja depois.

Portocalis: - A vida humana não tem valor?
Valor é um conceito utópico. Tudo tem preço. Por isto, cada um deve cuidar da sua vida, já dizia Abraham Lincoln.

Portocalis: - A Brazill Inc criou outros enclaves também...
Sim, para que os acionistas minoritários da massa falida, mas com positive prospect income, alguma atividade laboral, algum meio de produção e, portanto, com possibilidade de quitarem suas dívidas. A Brazill Inc arcou com uma infraestrutura básica para eles.

UM DOS ENCALVES DE BRAZA, Á BREIRA DE UMA VIA DE MANUTENÇAO, NO BRAZILL.

Portocalis: - Mas, só um muro foi construído.
Mentira destes esquerdistas Noruegueses, destes gaysistas canadenses, destes maconheiros californianos. Inveja porque aqui somos ricos do que eles, agora. Fizemos muros que permitissem a segurança deles. E eles pagaram, como Donald faria.
Estes enclaves decidiram criar uma cooperativa, sabe como é, este povo gosta destes nomes de humanas. Passaram a se designar Brazânia.
Temos uma relação produtiva com eles. O Presidente Marcola e o Comandante Flavinho, um tipo de COO por lá, são sócios nossos em vários empreendimentos.

Portocalis: - E os Direitos?
Direito é free lunch, baby. Em Brazill, não acreditamos nisto. Não há direitos. Há conquistas, obtidas com seu dinheiro suado ou herdado. Sem preconceitos.
Em Brazânia, vejo que eles trabalham com um sistema de meritocracia também. É um pouco diferente, mais direto. Mas, no final, quem tem méritos para sobreviver, sobrevive.
E os moradores de Brazânia parecem se divertir. Eles têm música, churrasquinho de rato na laje, futebol e carnaval.  Deixamos até algumas áreas para atender ao turismo e lazer deles. Umas, com vista para o mar, Maricá, Praia Grande, etc. E por uma taxa muito razoável, os moradores de uma Unidade de Brazânia podem sair e usar estradas de serviço para chegar a estas áreas.
Muitos Shareholders são donos de negócios em Brazânia, desde serviços financeiros até alimentos. Ajudam muito a economia local. Várias de nossas concessionárias e locatárias atuam lá também. Brazânia é beneficiada pelo empreendedorismo promovido pela Brazill Inc.
Ninguém diz, mas há uma dinâmica social. Há moradores de Brazânia que, por seu grande empreendedorismo como lutadores de UFC compraram até permits. Outros, ficaram ricos, mas preferem ficar por lá, onde ficam mais à vontade, entre seus iguais.
Fizemos um acordo de livre comercio com Brazânia e seus moradores, podem entrar no Brazill, com um passe de trabalho, desde que retornem à suas áreas, quando não estão trabalhando. Brazânia se beneficia muito do sistema de Job pass.


Portocalis: - Conte mais sobre o job pass.
É genial. Um estrangeiro de um país com o qual tenhamos contrato, Brazânia por ex., tem um passe que dá direito a ele vir trabalhar e transitar, nas vias destinadas a empregados. Sem passe, fica em Brazânia! Simple as that. E tem um dress code para não atrapalhar a vista.
Se um shareholder quer ter um estrangeiro vivendo no condomínio, ele faz um sponsorship e paga um nigh-and-day pass. Não somos radicais. Desde que ele mantenha seu sponsored fora das áreas sociais. Os condomínios são exclusivos para shareholders e permitters. Sabe aquela coisa da Disneyworld, que a gente não vê os empregados, onde os carrinhos de lixo, não aparecem? Aqui também fizemos isto, ficou lindo. E melhor do que a Disney, porque não há fila. Só a VIP. Os empregados circulam em vias operacionais que ficam ocultas por lindos bambuzais, murais de LCD com frases motivacionais da Clarice ou grandes outdoors de grandes pintores como Romero Brito e Adolf Hitler.
E Leis trabalhistas?
Meu Santo Louis Vuitton! Isto é mais fora de moda do que bambolê. Vocês europeus são velhos, mesmo! Aqui não tem anda disto
O empresário entra em um sistema, seleciona o que quer contratar: aplica os filtros que lhe convém. Homem? Mulher bonita? Experiência? Aparecem os candidatos, ele pode ver as estrelinhas que os outros empregadores deram a esta pessoa, e ele faz uma oferta. Quem aceita, automaticamente firmou o contrato e ganha o job-pass, pelo tempo correspondente e vinculado às rotas que terá que fazer. Recebe o combinado, já descontado um imposto pelo uso das vias de trabalho e as dívidas.



Portocalis: - Uber?
A diferença é que não tem cliente pobre, hahaha.
Portocalis: - Há acusações de trabalho escravo, através do job pass
Escravo? No way! Se fossem nossa propriedade. teríamos que cuidar melhor deles. Estamos na época da economia do compartilhamento. Para que ter um escravo?
O que acontecer é que os moradores de Brazânia para se inscreverem no job passa precisam de um certificado básico. Sabe, Educação? Aprender a servir uma mesa, a dizer Sim Senhor, a não ser um canibal que rouba cinzeiro de hotel, a respeitarem as normas de Brazill. E eles usam crédito para estudar. Se querem fazer outros cursos, alfabetização, esteticista, mecânico, etc. mais crédito. Se querem ir ao posto de saúde, também se alavancam, etc.
Quanto mais cursos e melhor saúde, mais chances terão de obter um job-pass. E empresas de shareholders e/ou sediadas em nossos condomínios empresariais provem tanto os serviços quanto o crédito.
Depois, a dívida é descontada diretamente no job pass. Limpo, justo.

Portocalis: - E se a pessoa não pagar?
Temos um índice de inadimplência muito baixo, em Brazânia.
Comandante Flavinho tem um serviço de recuperação de créditos excelente e tem convênios com muitas empresas de Brazill Inc. O know-how dele é tão bom que todo mundo paga. Todo mundo que quer ficar vivo, pelo menos hahaha.
Portocalis: - Há denúncias que milícias controlam Brazânia e que elas teriam ligações com shareholders da Brazill Inc.
It is not our business. Brazânia criou seu autogoverno e nós não interferimos nos negócios de outro país.  
E os negócios de nossos shareholders também são assuntos deles. O princípio liberalizante do WE DO NOT CARE ou FODA-SE o mundo, se você quer uma tradução mais pobre hahahaha.
Agora, se você quiser perguntar isto diretamente ao Presidente Marcola ou ao Comandante Flavinho, vá em frente hahaaha.
Portocalis: - E as acusações de estupros recorrentes a job-pass, em Brazill?
Estupro é invasão de propriedade. Levamos isto à sério.
Agora, o dono é o responsável primário por proteger seu asset.  E se não conseguir? Pode pedir uma compensação, proporcional ao valor do asset invadido, para reparar os danos à sua propriedade.
Portocalis: - Há reclamações sobre o sistema de justiça que seria muito leniente com uns.
Sistema? Não temos leis, nem um sistema de justiça. Isto é paradigma ultrapassado. Tudo está definido nos contratos. E há um Conflict Resolution Business. Arbitragem privada. Se não há acordo na escolha de uma, há um sorteio.
Os Condomínios fiscalizam as normas deles, aplicam as multas que queiram. Nosso setor de compliance só entra em assuntos constitucionais ou inter-condominiais.
Não há presídios, tudo é muito mais prático, multa para quem pode. Banimento ou morte para quem não pode.
A punição mais usada para estrangeiros, como os de Brazânia, é a multa seguida de suspensão, provisório ou permanente, do sistema de job pass. Podem ser punidos estrangeiros que desrespeitam normas de condomínio, questionem nossa constituição basic, ou ainda, rompam seus contratos com shareholders. Alguns são punidos por faltas graves como: reclamar com o patrão, pedir aumento de salário, trabalhar desanimado, contar problema da família, etc.
Além da multa e suspensão, o estrangeiro pode ser exilado para Braza, caso o shareholder queira e pague a realocação, feita em um convênio entre Brazill Inc e o Cdte. Flavinho.

Portocalis: - Mas, e as execuções?
Não há execuções. Se algum permiter, ou job pass holder ferir um shareholder, a família pode escolher se ele será morto ou expulso para Braza, depois de ter uma multa de 1000% de todos os bens pessoais e da família.
Se um shareholder mata ou fere um permiter, tem que indenizar também, proporcionalmente ao valor de quem foi ferido. Sempre digo: “Tem que ter cabeça fria, antes de atirar. Confira o seu limite de cartão, baby!” Um tiro pode levar uma família a falência.
Acreditamos na meritocracia. Alguns têm o mérito de nascerem brancos, em famílias ricas e terem amigos influentes. Mérito deles.
Nosso sistema incentiva a meritocracia. Quanto mais rico você for, mais seguro estará. porque sua vida tem um preço alto. Sua melhor proteção é seu asset, baby.


Portocalis: - Mas, quando a vítima é de Brazânia?
Não há vítimas de Brazânia. Se uma pessoa de Brazânia apanha, ela pode até não saber o porquê, mas sabe que mereceu.
Um shareholder pode matar, ou contratar a morte, de uma pessoa de Brazânia? Sim, se isto decorrer “de escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. Ele mesmo se julga, por um app, Self-Judgement. Coisa up!
Portocalis: - E fica por isto?
Não. Além do custo de remoção do cadáver e multas por limpeza, que variam de acordo com o condomínio, a pessoa será responsável por pagar as dívidas que o executado tenha com outros shareholders.

Notícias mostram que vida nos Condomínios de Brazill Inc. não é o paraíso.  Há problemas de violência entre os shareholders.
Muito se fala, mas é exagero. Questões entre shareholders são decididas patrimonialmente.
Agora, cada condomínio é livre para determinar as regras para uso de armas dentro dele. Acontece de um esquentado descarregar sua metralhadora em uma festa? OK. Mas, isto é questão de a festa ter melhor secutiry x-ray, não?

Portocalis: - E notícias de suicídios, assassinatos e exílios dentro de familiais de shareholders e permitters?
Again, baby. Acontece? Mas, assuntos entre shareholders são resolvidos por ele mesmos.
A família cresce, maus negócios diminuem o patrimônio a ponto de arriscar o share mínimo. Ou uma família de 5 living permits, só faz renda para renovar o permit de 4. Então a família faz um downsizing. Algum “idoso babão” dança? E na bala? Dança. Algum filho que não tenha um bom prospect, tipo artista de bike dobrável, veganos, ou seja, um liability é enviado para Portugal?  Sim. Novamente, free Market, baby. Nada se pode contra ele.

Portocalis: - Living permitters são shareholders originais que tiveram que vender a cidadania? O número e shareholders vem diminuindo?
Difícil para você entender. Primeiramente, não há cidadania, coisa de países old model. Em Brazill Inc, há Living Permit, pago anualmente, ou Partner Permit, que os shareholders têm e é vinculado a um lote mínimo de ON’s. Estes não precisam pagar nada além as taxas de condomínio, onde vivam.
Temos até pets que são shareholders por herança. Somos muito inclusivos e avançados.
Com os sucessivos aumentos de capital, com os fees da vida Triple A. nos condomínios, o jogo foi ficando mais pesado. Então gente que tinha lotes menores foi vendendo e preferindo comprar um living-permit anual, que vem junto com a taxa do condomínio. Mercado é assim. 
O living permit anual é tão bom que quase 50 milhões optam por paga-lo. Mas, Shareholders atualmente são em torno de 20 milhões.

Portocalis: - Living-permitters são tratados como estrangeiros?
Não. Estrangeiros com recursos para comprar ações podem ser shareholders. Não somos xenófobos, oh Mamon! Se um russo, um chinês quer comprar um share. Será um igual.  Os que shareholders são sócios. Os que tem living-permit são tratados como usuários. Se pagam, ficam.  

Portocalis: - E se não conseguem mais pagar?
Tem a opção de renegociar dívidas. No fim, sem um living permit, vão para outro país, Brazânia ou Suazilândia. É problema de cada um.

Portocalis: - E as acusações de controle de população via taxas?
Não controlamos nada. Oferta e procura. Tem muita gente querendo o permit? Aumenta o preço.
Controle é Fakenews propagadas pelos esquerdopata exilados em Paris, discípulos do Vagner Moura e do Chico Buarque, que compraram apartamentos em Paris, no meio daqueles imigrantes fedorentos, com recursos desviados da ONU.

Portocalis: - A ONU está em processo de reconhecer o direito de Braza à soberania. Enquanto a Brazill Inc. segue sem reconhecimento e fora do sistema internacional.
Eles gostam de Braza? Levem pra casa. Transplantem para a Noruega. We Don’t Care. Mas, se algum coletinho ou capacete azul quiser usar nossa propriedade ou espaço aéreo para acessar Braza, vai virar estrelinha no memorial da sede da ONU.
Não somos isolacionistas. Fazemos parte do Clube Paineiras, do Foro de Davos e do LIDE. Mas, a ONU? Para que?  É um lugar muito misturado, tem gente de turbante, gente de muitas cores diferentes. É um lugar ultrapassado, de petralhas, falta um Business Focus e critério de filiação mais exclusivo. Não gera profit.

Portocalis: - A própria ONU denunciou que a Brazill Inc desrespeita a Ecologia.
A ONU faz parte da URSAL e do Foro de São Paulo.

Portocalis: - O Foro de São Paulo nunca foi mais do que um documento e a URSAL apenas uma brincadeira irônica, inventada em um artigo.
Isto é o que todos os esquerdopata dizem. Todo mundo sabe. Eles disseminam as Fake News de aquecimento global.
Aqueceu? Coloca ar condicionado. Quanta ignorância!
Somos ecológicos e amamos paisagismo. Amazônia é um dos empreendimentos mais top que temos. Há uma série de fundos de private dedicados a ela. Havia uns grupos pré-históricos lá que insistiam em propriedades sem lastro cartorial, e se diziam indígenas. Eles foram transferidos para um enclave de Braza Jungle, campeão de área de safari, hoje.

Matam índios, segundo denúncias.
Se alguém entra na frente da onça, bem na hora do tiro, que culpa tenho eu?
Temos apenas um planejamento racional. Conseguimos finalmente ter um sistema de soja extensiva, tratores autodirigidos por satélites. Sementes sofisticadas. Um luxo.
E, onde não dá mais soja, nem pasto, houve a locação para um excelente eucalipto adaptado ao clima, líder global, hoje.
E ainda deixamos um parque de ecoturismo. Tem até rollercoster com uns dinossauros que parecem reais. Você já foi? Deveria, é concedido para a Universal.

Portocalis: - A mesma dos parques temáticos, filmes?
Não. A Igreja Universal, a líder em entretenimento em Brazill.
E para que nenhum amante de samambaia reclamasse, ainda, reservamos 10% como área verde. E vendemos captura de carbono. Somos muito socio- ambientalmente responsáveis. Temos prêmios que nós mesmos nos concedemos.

Portocalis: - E a destruição do ecossistema de Fernando de Noronha?
Agora chamamos somente de Fê. Fê Island.  Noronha era muito difícil para os gringos pronunciarem. A ilha é um Megaresort meio natureba, cheio de pousadas de charme, e está licenciado para a Huck Cruzeiros. Melhor falar com eles. Os golfinhos sumiram das praias? Talvez. Mas, eles fizeram um aquário com outros golfinhos. Lindo.

Portocalis: - Brazill é racista? Há um processo de embranquecimento?
Acusações dos concorrentes. Desde que empresas mudaram fábricas do Vietnam para nossos condomínios industriais, esta campanha se aferrou. Se o Vietnam tem paradigmas não competitivos, como salário mínimo e jornada máxima, problema deles. Aqui, tudo é o contrato, nada mais. Somos pela diversidade.  Temos gays lindos e loiros, há jogadores de futebol negros, nas festas. Há um grupo que incentiva a adoção de crianças pobres da Suécia.
Alguns shareholders têm linhas de crédito para living year permits e direcionam os fundos só para brancos loiros? Free will. Se eu excluir os brancos, seria racista também.

Portocalis: - Há relatos de que a liberdade de expressão vem sendo atacada em Brazill.
Mentira dos chineses, que não conseguem competir conosco porque limitam a poluição do ar. Imagine só? É só colocar um ventilador que a poluição vai embora e cai no final da Terra. Esta ideologia da poluição é coisa dos Terra-Esferistas, gente do mal. Tem um vídeo no Youtube que mostra. Já viu?
Há liberdade. É que seguimos à risca o There is No Free Lunch, baby.  Quer falar o que pensa? OK. Pague por isto. Desagradou algum pé rapado? Sai quase de graça. Mas, sua opinião incomoda a shareholders?  Pague mais.
Qualquer um pode falar o que quiser, desde que tenha cash para cobrir.

Portocalis: - E denúncias de corrupção? Houve uma reclamação de que a empresa de seu filho tem ganhado vários contratos recorrentemente.
Sabe o melhor de sermos uma empresa fechada? Eu não devo explicações para você. Quem a empresa contrata ou não é problema da Assembleia.
Tem acionista que joga contra, mas mesmo assim é um assunto da empresa.

Portocalis: - Por que Esportes, Educação, artes e literatura entraram em decadência?
Não vejo assim.
E há uma vida esportiva vibrante. Polo, Tênis e UFK com moradores de Brazânia.

Portocalis: - Não é UFC?

Inovamos, como tudo. Aqui, a luta termina com um morto ou os dois, hahaha.  Então é Ultimate Fight Killing mesmo. E tema nossa BFL, com o meu Vineyards Blonds que massacraram os All Saints Bay ontem, no Doria Arena, onde antes tinha o Pacaembu.

Portocalis: - E Educação?
Nossas escolas inovaram: Aboliram o professor. Professor dá muita manutenção, faz greve, quer chamar a atenção dos nossos filhos. Deixaram apenas babás. E eliminaram também a coisa de ficar estudando artes clássicas ou literatura, estas coisas de viado. O currículo básico nacional é: Tiro, Excel, Gerenciamento dos outros, e BBS, porque os estudantes também precisam e soft skills.

Portocalis: - BBS?
Beauty, Balada e Sacanagem. Com esse currículo, a elite tem tudo o que precisa.
Temos universidades lindíssimas, envidraçadas, com jardim, ginásios, estande de tiro, com multimídias holográficos de última geração. Dá até vontade de ir. Mas, se não tiver, pode receber o diploma também, mediante um adicional. Cursos como Business, Contratos, Educação Física, Psciologia e Decoração de Interiores estão em alta. Tem menos cursos de engenharia, medicina? Mas, é mais barato comprar engenheiros chineses e médicos russos.
Agora, os críticos queriam o quê? Que tivéssemos curso de Sociologia? Faculdade de Saúde Pública? Ou ainda, Pedagogia ou Serviço Social? Estas coisas de pobre só geram pobreza.
Estamos sem artes? Que absurdo! As artes úteis e de pessoas de bem florescem. Veja a dupla de música clássica Lobão e Fabio Junior? Arrepia. Temos 3 Lollapalooza por ano. A únicas versões do mundo onde 100% do show é área VIP. Alok toca em quase toda festa de aniversário de shareholder.
E as letras vão bem. Há sempre livros maravilhosos de como ficar mais rico, mais magro, mais feliz. O presidente da Academia Brasileira de Letras Sagradas (Nota da Repórter: o nome foi mudado depois que a maioria dos imortais passou a ser de padres e pastores), Kin Kataguri acaba de lançar 3 compêndios com suas memórias, 800 páginas., 780 de fotos lindas.
Estas acusações são é choro de viúva do Chico Buarque. É que tinha muita coisa produzida aqui, que não servia para nada. Quem sente falta de cinema de arte? Qualquer sonífero faz o mesmo efeito e mais rápido. O Brasil antigo insistia em fazer filme brasileiro, por exemplo. Só tinha pobre, coisa horrível. Era bad advertise. Hoje, nosso cineasta mor, o Frota, tem um espaço destacado que domina o Market-Share na categoria “pornô-religioso”, falado em inglês. Bem tem pouco diálogo, mas diálogo é coisa de esquerdista.
O resto que precisarmos de cultura, a gente compra em Miami ou na lojinha do Louvre.
Portocalis: - 10 anos de Brazill em uma declaração final...
Quebramos paradigmas.
Brazill Inc administra o primeiro país sem impostos, sem taxas de comércio.
Os 20 milhões de Shareholder do Brazill têm a melhor renda per capita do mundo, ninguém mais usa pochete nas ruas e em Maresias faz 10 anos que ninguém vê um pobre farofeiro.
Os shareholders do Brazill podem ganhar mais no rendimento de suas ações do gastam com condomínio. Então, o Brazill é o primeiro país do mundo eu dá lucro para seus participantes.
Para seguir crescendo 8% a.a. vamos concentrar mais os enclaves para abrir novas áreas industriais. Alienaremos parte da operação, que não se encaixa no business. Chineses têm interesse em comprar Roraima e Israel está pensando em alugar Magé para colocar os palestinos lá.
E ampliaremos. Fizemos uma oferta de take over das Ilhas Cayman. Os Shareholders têm uma ligação afetiva com o lugar, traz boas lembranças.
E estamos prontos para compartilhar nosso modelo com o mundo, criamos uma divisão de consultoria para isto. Antigamente, chamávamos de Itamaraty. Nome de índio. Um horror! Hoje, é Brazill Fransiching Inc.

Portocalis: - Meu resumo seria outro: Brazill. A Classe A. AA e AAAAAH, agora se chama shareholder e é dona de tudo. Vive em Condomínios isolados, faz suas próprias regras, intocada e cada dia mais rica. Dividem alguns espaços com paying permits, a antiga classe B, que podem dançar se não fizerem o suficiente para a taxa.
As classes C e D foram enclavadas em áreas muradas, Brazânia e só entram no Brazill para trabalhar por qualquer trocado. Não há nenhum direito e tudo e regulado por contratos entre partes totalmente desiguais.
A classe E foi encarcerada em Braza e só e usada como fornecedora de carne e órgãos.
Mas, isto me parece o mesmo Brasil de antes, apenas mais descarado.

Para uma mulher, você até que pega as coisas rapidamente.