quinta-feira

"VÍCIO"

E fugiste... Que importa ? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
                                                               (Mário Sá Carneiro)


Eu uso, confesso. Sei que contradiz mais do que explica. Desnecessária desculpa. Retém mais que revela. Fazer o que? Talvez seja um prazer oculto de quem segreda o que a palavra não diz. Arte matreira. Proíbe ao dicionário interpretá-lo. Anuncia fortemente que não é o que parece ser. Quase uma provocação. Um sigilo. Redundância para falar muito e não dizer o que deve.

Eu uso, confesso. Passo muito tempo sem. Evito. Desvio. Deixo de lado mesmo. Parece. O preço é alto. É uma brincadeira de faz-de-conta. E perdi a conta. Sei, preciso de abstinência. A distância ajudaria. Mas, ela sempre está por perto. Com suas linhas sutis, quase um sorriso, um trejeito. Por cima, com o seu ar triunfante. Não tenho chance. Recaída na certa. Sem aviso.
Eu uso, confesso. Não para advertir que não me pertence. Que é empréstimo o que de direito não é. Eu uso além. Abuso. Confesso. Deveria existir uma lei contra isto. Multas exorbitantes. Um decreto real. Um mandamento divino com danações eternas para os insistentes. Um imposto para a impostura dela. Delas. Plural e Par. Quase uma conspiração dos sentidos vagos.

Eu uso. Confesso. Ela vem e ponto. Ou melhor, ela vem sem ponto. Pode ser a insegurança de não ser entendido. Covardia de não enfatizar. Talvez seja uma proteção. Tática defensiva. Conforto da sua escolta. Cubro-me com seu véu.  Muletas da indefinição.

Eu uso, confesso.

Meu nome é Eduardo e eu uso ASPAS.

Ponto “Final”

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