quarta-feira

Belos Erros


Para um bom escritor, o sucesso de crítica pode ser mais difícil do que o fracasso. Seu nome em letras maiores do que as do título do livro. Um best-seller ainda é mais arriscado. O subtítulo de seu novo livro aparece: Do mesmo autor de XXX. Este é o momento quando o escritor se diferencia do bom vendedor de livros. Ou ele encara o risco ou segue a vida a plagiar a si mesmo. “O Filho Eterno” trouxe este dilema a Cristóvão Tezza.

“Um Erro Emocional”, é a prova de que Tezza assumiu o risco. Coragem vista logo nas primeiras linhas. Paulo, um escritor com seus “42 anos mal vividos”, inicia o livro com um discurso para Beatriz. “Cometi um erro emocional... — Eu me apaixonei por você."

Um homem tomado por um amor não convidado (há outro tipo?). Não sabe o que fazer com a inviabilidade de seu sentimento. Ou talvez de sua vida. Não quer o sentimento e precisa senti-lo desesperadamente.

Tema comum. Difícil para quem não quer se repetir. Mas Tezza, a exemplo de outros bons escritores, faz do comum o extraordinário. Estabelece uma narrativa rápida, numa falsa oralidade com a fluidez de um texto. Todo o livro se passa em um diálogo entre Paulo e Beatriz. Nele, Tezza (ou Beatriz?) fala do amor não convidado. Do charme das possibilidades irrealizadas. Amor majestoso como o quase gol de Pelé, inolvidável mais que 1000 gols existentes. Sentimentos bonitos como só as coisas nunca acontecidas podem ser.

No diálogo Paulo-Beatriz está a invencível distância da felicidade tão próxima. Como na visão de Michelangelo, os dedos do Criador chegam próximos, mas Adão jamais os tocará.

O amor que irrompe na história dos personagens, mas pela história acaba exilado. História da falação de Paulo que a tudo analise para nada entender. História de Beatriz em seu discurso desarmado e profundamente ensaiado.

Ao colocar em Beatriz (na sua conversa com a amiga Doralice) o poder da narrativa, Tezza talvez (como a maioria de nós) tenta imaginar como as mulheres que amamos nos ouvem. O que elas escutam quando dizemos o que achamos que não dizemos.

Paulo precisa de uma saída para seu labirinto. Beatriz parece saber o caminho. Parece ser o caminho. Talvez não ame Beatriz, ame o mapa que ela parece carregar. Ame as migalhas que ela deixa cair, trilha para fora da floresta ou para se perder complementamente. Um livro sobre os acertos mais significativos da vida, os erros emocionais.

Nenhum comentário: