quarta-feira

Bob, just Bob

Vou chamá-lo de Bob. Ele me pareceu alguém que chamaria Richard, muito menos um pomposo William.

Vou chamá-lo de Bob porque não perguntei o nome. Em Bob o nome não mudaria o que ele é.

Na fila do raio-x, despimos cintos, laptops, celulares, moedas. Bob coloca sua caixa do charango. Não tem metal algum. Mochila jeans, pés livres em um chinelo com história.

Sala de embarque congestionada. Bob faz do chão seu sofá. Entre celulares nervosos, laptops conectados a meio-mundo. Bob segue disciplinadamente desconectado. Ligado só com o que está ao seu redor. Enquanto eu, parte da horda de nervosos seres on-line nos inteiramos dos acontecimentos em Trípoli, da cotação da bolsa em Hong Kong, do status update de amigos que não vemos. Bob não. Está só ali no meio de ausentes. Bob tira do charango uma melodia praiana. Todos nos ausentamos, ele faz presente. Pinta cores de por do sol havaiano no desbotado salão de embarque.

-        Surfista?
-        Aprendiz.
-        Compete?
-        Não. Há ondas para todos.   Não quero chegar à frente de ninguém.
-        Surfa por prazer? Rico.
-        Yeah man. I am rich. Mas, não tenho dinheiro nenhum.

Bob trabalha por 4 meses no restaurante do tio, nas vinhas de Oregon. No restante, segue ondas pelo mundo. Dorme onde consegue. Come o que aparece. O segredo ensina Bob, é não comprar nada que não caiba na mochila. Não ter cartão de crédito e nunca gastar mais 10USD por dia. Você sabia, man, que 80% da população do mundo vive com menos de 10USD por dia? Até estatística Bob cita.
Bob é um executivo de si mesmo. Deslocado e tão no lugar.